terça-feira, 27 de outubro de 2009

Festa da Chiquita na Berlinda

Por Elva Vieira (elvavieira@msn.com)

Semana passada, em conversa com a minha orientadora decidi trocar de objeto de pesquisa. Um dos grandes motivos pelo qual resolvi fazer esta troca está no fato de que as festas trance em Belém estão cada vez mais escassas*
e as que existem não tem dado muita gente, portanto, não tenho como fazer as pesquisas de campo para embasar uma dissertação de mestrado. Então troquei as cartucheiras pelo salto de 15 cm. O urucum pela make up pesada. O psy pela piranha do banheiro. Troquei as raves pela Festa da Chiquita. Sim, isso mesmo. E se você pensa que uma coisa não tem nada em comum com a outra, está enganado.

Não gosto do que é moralmente bem aceito pela grande massa. Gosto dos marginalizados pela sociedade, daqueles que festejam a vida diante dos olhos de uma sociedade homogeneizante, cheia de hipocrisia. Meu negócio é festa. É sair de casa para o encontro de um grupo que ri, grita, dança, canta. É renegar as formas políticas pelo humor, pelo escárnio. A revolução não é mais aderir a partidos políticos para mudar o mundo. É festejar. É mostrar que o mundo pode ser melhor e mais unido se nos juntarmos e festejarmos. É agregar. Todo mundo junto e misturado. É não ser mais um corpo individual e sim coletivo. Ah, e como eu gosto do coletivo. É dizer não às regras do estado, da igreja e mostrar a eles como o grupo tem poder e valor social. É ser mau visto e não ligar para isso.

Festa é religião, sim. Inclusive, alguns pesquisadores afirmam que a religião deriva das festas. É sagrada e não profana como as autoridades insistem em dizer. É um momento mágico e extraordinário no qual o indivíduo vai ao encontro de um mundo paralelo, onde a energia vem de todos os lados e transforma. A religião, assim como a festa é um produto social. Onde a verdade pertence ao grupo e a partir dela que se canalizam energias. Um ritual, assim como as festas dionisíacas, como o Círio de Nazaré, como os festivais de música eletrônica, como o réveillon, carnaval, páscoa. Não me excomungue por colocar em pé de igualdade algo que no primeiro momento parece ser distinto, porque não é.

Tenho dedicado meu tempo e atenção a isso. Que coisa maravilhosa é você festejar, pois são os momentos festivos que te dão o gás necessário para continuar vivendo. E vivendo em sociedade. Durante a semana o homem trabalha, rala o dia todo, está muito ocupado com o cotidiano, com as contas, com o emprego, com o estudo. Quando ele está numa festa não. Ele brinca, brinda, volta a ser criança. Vive a magia de estar na companhia do outro, ainda mais se esse outro for alguém que compartilhe suas idéias e anseios.

Por isso estudo o comportamento e a comunicação do corpo coletivo nas festas, por encontrar nelas a razão para o homem continuar a ser homem. E ser humano é ser social, então não tem como eu querer estudá-lo sem estudar os fenômenos sociais que os rodeiam.

Na verdade estou muito feliz em trocar de objeto de pesquisa. E ansiosa pelo resultado final do trabalho. Vamos ver no que vai dar...




Trailler do Documentário "Filhas da Chiquita" (Priscilla Brasil, 2006)





*Acho que não estou assistindo à morte da cena da música eletrônica em Belém, apesar de ter certeza que o movimento trance aqui perdeu muito da sua força. Com a perda desse movimento, o grande público se dispersou, "enjoou" das festas e do formato dela. Quem pode faz melhor: curte os festivais pelo Brasil. O fato é que ainda temos muita gente que simpatiza com as festas rave na cidade, mas não aguenta a mesmice. E quando eu falo de rave me refiro mesmo àquelas feitas em sítio, cujo público é quem gosta mesmo dessas festas e da música. Acho que estamos passando por uma transição, na qual o público está a espera do próximo hype, da próxima vertente, do próximo diferencial nas festas da cidade...

Nenhum comentário: