quinta-feira, 15 de maio de 2008

Pesquisador aponta a percepção sobre as desigualdades como causa da violência urbana no Brasil

Por Elva Vieira (elvavieira@msn.com) e Nathália Cohén (nathicohen@gmail.com)

Você acredita que a violência urbana vem da miséria e de condições sub-humanas ou insuficientes? O pesquisador Max Dante, Gerente de Comunicação do Projeto Travessia - Experiência de Inserção de Jovens em Situação de Risco por meio de estudos comparativos afirma: é o sentimento de injustiça na divisão de riqueza e as desigualdades sociais que condicionam a violência urbana brasileira.
Segundo o Índice Global da Paz publicado em 2007, o Brasil é um dos países mais violentos do planeta. Porém, não é um dos mais pobres do mundo. Uma pesquisa comparativa de Índice de Desenvolvimento Humano entre o Peru e o Brasil aponta que apesar do IDH do Peru ser menor, o Brasil ganha no quesito violência.
"Isso quer dizer que o indivíduo se tornará violento vivendo em condições insatisfatórias, tendo contato próximo e freqüente com outros indivíduos que vivem com privilégios e que o humilham por esta diferença", afirma Max Dante.

Embora os moradores do Peru vivam em condições de pobreza muito difíceis, a sua população não se torna violenta pelo fato da diferença de riqueza em si próprio e na população não serem tão aparentes. Diferentemente do caso do brasileiro, onde principalmente nas grandes metrópoles o cidadão se vê injustiçado e humilhado socialmente, o que acaba levando a população mais pobre à indignação e revolta contra a sociedade, originando as ações de violência urbana. Max Dante conclui que esses tipos de violência devem ser tratados como questão social diretamente ligada à divisão de riquezas.


Belém vive com medo

Esta é a conclusão de um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) realizada em 2006, em relação à percepção da violência urbana pela população. O medo é maior entre as classes mais baixas, porém este é um problema que cada vez mais presente nos bairros considerados de classe média-alta e alta.
A estudante de odontologia Maiara Barbosa, de classe média, confessa que teme sair na rua de sua própria casa. A jovem, já foi assaltada duas vezes,à mão armada há pouco metros de seu prédio, localizado na Avenida Doca de Souza Franco (uma das áreas mais nobres de Belém). Até dentro de sua universidade, Maiara é alertada pelos professores de que mesmo de manhã é para se tomar cuidado ao andar sozinha pelo campus, que é localizado numa das zonas mais perigosas da cidade. "Não levo nem o celular quando vou pra Federal", afirma a estudante.


Estado do Pará não foge à regra

O jornal O Liberal publicou no dia 30 de janeiro que o município de Tailândia, localizado no nordeste do estado, é considerado o sexto município mais violento entre 5.564 município do Brasil, de acordo com 'Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros 2008' pesquisa realizada pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana- RITLA, o Institudo Sangari, Ministério da Saúde e Ministério da Justiça a cada dois anos. Outros municípios do estado também estão no topo da lista, como Marabá e Itupiranga e Breves.
De acordo com Julio Jacob Waiselfisz, diretor de Pesquisas do Instituto Sangari e autor do Mapa, o estado do Pará apresenta uma situação alarmante: 12 municípios entre as 200 cidades com os maiores números absolutos de homicídios. Isso sem contar com os roubos, assaltos e seqüestros relâmpago que ocorre no estado.
A pesquisa revela que a violência em Belém é absurda, principalmente no que se trata de homicídios, porém um notável aumento de óbitos por conta da violência urbana tem sido observado cada vez mais nos interiores do Pará.