terça-feira, 24 de novembro de 2009

Elva, com V*

Emanuel Vieira é o mais rebelde de uma família de quatro irmãos, por isso o mais querido. Foi apelidado de Bibelô quando criança. É um narcisista. Dizem que pessoas do signo de Leão são assim mesmo. Em 1986, quando a companheira engravidou, Emanuel queria homenagear a si mesmo dando a criança seu nome. Nos exames de pré-natal descobriam que vinha uma menina. Ele rapidamente resolveu o problema: pegou as primeiras e últimas letras do nome e sobrenome e batizou como Elva. A mãe tratou de procurar no livro de bebês o significado da palavra. Pra surpresa do pai, Elva já existia. Deriva de Elfo, origem germânica. Assim como na palavra de origem, significa duendes, gnomos e fadas. Alguém que é criativa e espontânea. Possui muita inteligência e alto poder de comunicação e sempre vive no mundo da lua por pensar demais.

Quando Elva se apresenta, a maioria se surpreende. Acham o nome incomum. Geralmente retrucam: “Elva?”. Sim, Elva. Irrita-se com atendentes de telemarketing quando insistem em chamá-la de Dona Elza ou Elba ou Elga. “Não. Elva, com V”, responde. Já se acostumou quando a mãe confunde seu nome com o de sua irmã, a Elma. A Elma se chama assim porque a mãe quis que caçula tivesse alguma ligação com o nome da irmã mais velha, com o dela (Elaide) e conseqüentemente com o do pai. Mas isso já é outra história.

Sempre que Elva conta de onde vem seu nome, as pessoas geralmente dizem que tem tudo a ver, que ela não poderia se chamar de outra forma. Primeiramente porque ela é a cópia do pai: alva, inconstante, informal, assustadoramente complicada, porém doce. Possui todos os traços da tradicional família Vieira, diferentemente da irmã mais nova, que puxou mais para a família da mãe.

Genéticas à parte, Elva se derrete toda quando elogiam seu nome. Para ela, ter nome fora do comum já é um grande elogio. Quando a comparam com os Elfos é que ela gosta mais. Eles são pequenas divindades da natureza, bonitos e iluminados, seres sensíveis com poderes mágicos. A literatura diz ainda que os Elfos sejam amantes da música, da dança e das artes. Como não se lisonjear com tamanho elogio? Mas a Elva ainda possui uma peculiaridade que a aproxima ainda mais do arquétipo desses seres. Tem a orelha saliente e meio pontuda e não as esconde, como a maioria das mulheres de orelhas engraçadas faz.

Para fazer alusão à origem do seu nome, ela tatuou uma fada nas costas. Quando Elva prende seus cabelos vermelhos em forma de coque, a fada - que também possui os cabelos assim - fica à amostra. Quem olha para as costas dela, vê que a fada também está de costas, olhando para cima, sentada grama, contemplando uma lua que se esconde na nuca da moça. A Elva pensa ainda em tatuar mais um gnomo e um duende. Vai fazer de seu corpo uma verdadeira floresta encantada.

Fica indignada em saber que existam outras Elvas no mundo. Inclusive Elvas é o nome de uma cidade em Portugal. Na cidade de Belém, onde mora a Elva, existem dois edifícios com o nome dela: Torre de Elvas e Quinta de Elvas. Há algum tempo descobriu pela internet que existe ainda uma localidade na Itália com seu nome. Ela na verdade, prefere imaginar que todos os locais com seu nome seja seu território a confessar que antes dela o nome já existia. Constatou mais de 1000 Elvas na pesquisa do Orkut. São tantas Elvas que ela se recusa a aceitar o plural de seu nome. Elva é apenas ela, mais ninguém.

Mesmo criança, jamais quis mudá-lo. Na escola, os coleguinhas não a chamavam pelo nome e sobrenome. Era apenas a Elva. E ela achava muito legal, porque eu não queria que a chamassem de “Pinto”. Apenas na hora da chamada a professora dizia Elva Pinto Vie... E antes terminar o Vieira a risada era geral. Ela queria sumir nesses momentos. Baixava a cabeça envergonhada, levantava a mão e apenas balbuciava “presente!”. Passou muito tempo de sua vida achando que as professoras gostavam de tirar barato com o sobrenome dela. Não entendia pra quê diziam o nome todo, se ela sempre foi a única Elva da escola...

Esqueceu a paranóia com o “Pinto” depois que cresceu. “Até que ter um Pinto não é má idéia”, sempre brinca. As formalidades e a possibilidade de outro alguém com o mesmo nome fez com que Elva adotasse o sobrenome Vieira para as assinaturas. Acha mais bonito, mais forte e até mais sério. Elva Vieira. Soa bem.

Ainda sim, gosta de acreditar que ela seja um reflexo de seu nome. Gosta mesmo. Mesmo que toda essa história de origem de nomes seja pura ilusão, isso contribui para deixar o mundo da Elva mais encantado. Ela se identifica com seu nome. Não se imagina sendo chamada de Luciana, Amanda, Priscila ou qualquer um desses comuns. Ela é a Elva, com V.


*Trabalho apresentado à disciplina de Narrativas sobre a origem e significado do nome. Ficou engraçado, mereceu a postagem.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

"Eu sou a Filha da Chiquita Bacana...

... nunca entro em cana porque sou família demaaaaais. Puxei à mamãe..."

Hoje passei o dia escrevendo meu novo projeto de pesquisa. E sabe, adorei ter trocado de tema. Não tem nada mais paraense do que o Círio e não tem nada mais Elva do que a festa dos excluídos, dai a gente junta os dois e a gente entra em êxtase! Chama Dionísio, diga pra ele me trazer um vinho pra comemorar que tá ficando lindo, lindo!
To fazendo tudo com muito empenho e carinho e é claro com aquele Sazon, pra ficar bem gostoso! Quero mesmo fazer esse registro de narrativas e contar a história por meio das experiências dos outros. É isso. Vou construir minha história com a história dos outros. O círio é mesmo um Carnaval Devoto, como estou lendo em um livro do Isidoro.
A música do Caetano demostra muito bem esse contexto: é religião, carnaval, ieieie, iaiaia, e tudo mais. E por falar nisso, ainda pouco estava cantando essa canção, e justamente na hora em que eu cantei alto que puxei à mamãe, a minha mãe disse que sou mesmo a filha da Chiquita Bacana. Não por eu ser homossexual, apesar de defender essa classe com unhas e dentes, nem por ser assídua dessa festa, porque realmente não sou. Mas porque quando minha mãe nasceu, em fevereiro, carnaval, passou um carro som tocando bem alto "chiquita bacana lá da martinica..." e o apelido ficou. Ela é a Chiquita Bacana, então eu sou a filha da Chiquita Bacana. Bom, coincidência ou não, me sinto mais Chiquita por isso. Ainda mais agora mergulhando nesse mundo louco e profano (ou sagrado?) dessa festa tão nossa!
Entre stress, travadas, cigarros, muita leitura e insistência para entrevistar meus personagens volto ao meu projeto. Até!